sexta-feira, 24 de março de 2017

COMO FAZER O ACOMPANHAMENTO FARMACOTERAPÊUTICO DE PACIENTES DIABÉTICOS


Atualmente existem 415 milhões de pessoas - cerca de 9% da população adulta do mundo - vivendo com diabetes, a maioria com diabetes tipo II. Este número dobrou desde 2000 e deve chegar a 642 milhões em 2040 (Atlas IDF 2015).
No Brasil, existem mais de 14 milhões de pessoas com a doença. A estimativa para 2040, do mesmo órgão, é de um aumento de 65% no número de casos. O Brasil ocupa a quarta colocação em número de diabéticos no mundo, perdendo somente para a China, Índia e Estados Unidos.
“O diabetes é um sério problema de saúde pública em todo o planeta e mesmo com o surgimento de novas tecnologias - como o pâncreas artificial; medidores de glicose que não precisam de picadas; insulina inalada, que dispensa o uso de agulha - o tratamento fica comprometido, podendo levar ao surgimento das comorbidades inerentes do descontrole glicêmico, como a retinopatia, neuropatia, nefropatia, doenças cardiovasculares, amputação e disfunção erétil”, afirma a farmacêutica clínica e professora especializada em diabetes, Monica Lenzi.
Ela ressalta que a frequência com que o paciente diabético vai até a farmácia e a facilidade em ser atendido por um profissional da área de saúde coloca todos os farmacêuticos clínicos na linha de frente e com um papel fundamental no tratamento do diabetes. “O paciente diabético, ou seu cuidador, frequenta a farmácia no mínimo uma vez ao mês em busca de seus medicamentos de uso contínuo e insumos para controle da doença. Ou seja, o diabético tem mais contato com o farmacêutico do que com o médico, que ele vê com menos frequência (em média de duas vezes ao ano)”, comenta ela.
Para o presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabético (ANAD), Fadlo Fraige Filho, com qualquer tipo de diabetes o acompanhamento é importante para planejar a dieta, determinar mudanças nas doses de insulina ou drogas, e monitorar os níveis de açúcar no sangue, o que pode retardar ou prevenir muitas das complicações da doença.
Ele alerta ainda que não é possível tratar o diabetes sem o uso de medidores de glicemia. “A automonitorização é uma maneira de iluminar o caminho. A primeira coisa a fazer quando começa o dia é medir o nível para evitar complicações. A variação da quantidade de insulina, a alimentação, os exercícios físicos têm de ser sempre de acordo com o resultado da glicemia. O paciente que se automonitoriza passa a lutar contra a descompensação”, diz o médico.
Vale lembrar que o acompanhamento do farmacêutico permite uma tomada de decisão, muitas vezes antes da próxima consulta médica, minimizando ou retardando o surgimento de complicações. Promove também a adesão ao tratamento farmacológico e não farmacológico. Acompanhe a seguir as orientações de Monica Lenzi.
Ações fundamentais no acompanhamento farmacoterapêutico do diabetes em consulta na farmácia
1 – Verifique se o paciente já possui ou não o diagnóstico de diabetes e se necessário, faça um rastreamento, para aqueles que ainda não tem diagnóstico, por meio do teste de glicemia capilar.
2 – Avalie os fatores de risco:
  • Idade;
  • Peso;
  • Histórico familiar;
  • Avaliação da pressão arterial;
  • Sedentarismo.
3 – Execute, no primeiro momento, o levantamento dos fatores de risco e o teste de glicemia capilar para pacientes já diagnosticados e em tratamento.
4 – Avalie como anda o controle glicêmico.
5 – Averigue a existência de comorbidades inerentes ao descontrole glicêmico.
6 – Levante os fatores de risco cardiovascular. Não se pode esquecer que a maioria dos diabéticos apresenta hipertensão e dislipidemia.
7 – Identifique quais são os hábitos de vida do paciente.
8 –Verifique como o paciente aderiu ao tratamento farmacológico e não farmacológico.
9 – Passe à orientação sobre medicamentos. Divida os pacientes em dois grupos, os insulinizados e/ou em uso de medicações injetáveis para controle dos níveis de glicose (Victoza, Lyxumia e Trulicity) e os não insulinizados.
10 – Oriente os pacientes que fazem uso de insulina e medicações injetáveis para controle dos níveis de glicose nas melhores práticas, tais como:
  • Fazer o rodízio do local de aplicação;
  • Escolher o tamanho da agulha;
  • Definir o melhor dispositivo para aplicação (seringa ou caneta);
  • Adequar as melhores práticas para armazenamento e transporte, já que insulinas e medicamentos injetáveis são susceptíveis às variações de temperatura;
  • Orientar sobre a não reutilização de material descartável;
  • Explicar como descartar adequadamente o material perfuro-cortante.
11 – Preste atenção, com relação ao uso de medicação oral, à interação medicamentosa, pois os pacientes diabéticos são polimedicamentados. Com o passar do tempo de diagnóstico, estes pacientes fazem uso de medicações para controle de outras doenças que fazem parte das complicações, como neuropatia, nefropatia, retinopatia e doenças cardiovasculares.
12 – Instrua os pacientes em uso de medicações hipoglicemiantes (insulinas, glibenclamida, glicazida), sobre o risco de crises de hipoglicemia, que podem ocorrer devido à alimentação insuficiente.
13 – Estimule a mudanças de hábitos alimentares, tão necessária para um melhor controle glicêmico. Uma dieta equilibrada deve ser adotada. Os farmacêuticos podem sugerir a adoção do método do prato com 50% de verduras e legumes (que afetam muito pouco a glicemia), 25% de carboidratos (que costumam aumentar a glicemia) e 25% de proteínas (que aumentam ligeiramente a glicemia).
14 – Direcione a prática de atividade física. Oriente o paciente na realização de, pelo menos, 30 minutos de atividade, cinco vezes na semana. Essa atitude melhora a absorção da glicose pelas células do músculo, aumenta a sensibilidade da insulina, ajuda na perda de peso corporal e no controle da pressão arterial. Aconselhe o paciente a buscar uma atividade física que lhe dê prazer. Deve-se iniciar em um ritmo mais lento, aumentando gradativamente. Dessa maneira se consegue uma melhor adesão do paciente.
15 – Garanta que, mesmo se encontrando com taxas glicêmicas normais, os pacientes não abandonem a medicação prescrita e o tratamento.
16 – Monitore e acompanhe os parâmetros bioquímicos desses pacientes, encaminhando-os a outros profissionais de saúde, que fazem parte da equipe multidisciplinar, quando necessário.
17 - Capacite o paciente diabético a gerir melhor o seu controle, por meio do autocuidado. Oriente-o nas melhores práticas de uso correto das medicações e equipamentos, como glicosímetros e dispositivos para aplicação de insulina (canetas e seringas).
Fonte: ICTQ

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